A historia petista
Saiu na Folha de SP de hoje, na pagina 3 um excelente texto do Gustavo Ioschpe (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2810200510.htm) que reproduzo abaixo para os que nao tem acesso ao jornal.
Ele descreve (corretamente) a historia do que chama de 'esquerda brasileira' até os dias atuais e deseja que, agora, 'caia nosso muro de Berlim'. Essa transiçao desejada, para uma nova esquerda que seja coerente, racional, honesta, democratica e atual, é extremamente desejavel, embora, a meu ver, seja improvavel.
Essa 'queda do nosso muro' vai se dar para uma parte dos brasileiros pensantes que compartilham desses valores, mas isso nao se aplica para a maioria dos brasileiros. Acredito que havera uma mudança do eleitorado de 2002 para 2006, mas esperar essa transformaçao de sonhadores irracionais de 2002 para coerentes e consequentes em 2006... precisa também sonhar!
Talvez nao seja muito agradavel para os meus amigos que sao petistas ouvirem isso, mas ainda assim tenho que dizer: Gostaria que voces lessem este artigo!!
Será que agora cai o muro de Berlim?
GUSTAVO IOSCHPE
"A maioria da esquerda brasileira é tão ou mais atrasada que o atraso que supostamente visa combater. Entrou para a guerrilha quando Che estava morto, criou uma Constituição desastrosamente estatista quando Gorbachev já havia entrado na perestroika e quase elege um operário defensor de um marxismo de folhetim no ano em que caía o muro de Berlim. Quando finalmente chegou ao poder, abandonou os princípios da esquerda e começou a montar um aparato para o seqüestro do Estado e sua entronização no poder que fariam inveja ao PRI mexicano dos áureos tempos (desnecessário apontar que a ascensão do PT no Brasil coincidiu com o ocaso dos congêneres mexicanos).
Por isso, essa crise política pode ser um presente para a democracia brasileira: dá a chance de levar de rodo todo um núcleo antidemocrático que danificava o país na oposição e o faz de forma exponencialmente mais grave no poder.Pois o projeto petista não era, como temiam alguns, tomar o Estado pela via eleitoral para então revolucioná-lo, criando um regime comunista. Era pior, por mais sub-reptício. Tratava-se de aparelhar o Estado, extorquir empresários, sugar recursos de estatais, cooptar e comprar deputados e, assim, mantendo as aparências do respeito às instituições, ir desidratando o país da pouca fibra democrática que conseguimos tecer nas últimas décadas.
Por isso, essa crise política pode ser um presente para a democracia brasileira: dá a chance de levar de rodo todo um núcleo antidemocrático que danificava o país na oposição e o faz de forma exponencialmente mais grave no poder.Pois o projeto petista não era, como temiam alguns, tomar o Estado pela via eleitoral para então revolucioná-lo, criando um regime comunista. Era pior, por mais sub-reptício. Tratava-se de aparelhar o Estado, extorquir empresários, sugar recursos de estatais, cooptar e comprar deputados e, assim, mantendo as aparências do respeito às instituições, ir desidratando o país da pouca fibra democrática que conseguimos tecer nas últimas décadas.
E o fariam, ao que tudo indica, não para colocar em prática um projeto de país -quase tudo que está sendo feito aí é apenas uma versão piorada do que já se fazia antes-, mas simplesmente pelo exercício do poder. São pessoas que nutrem o mais profundo desprezo pelo jogo democrático: sentem que a correção de seus ideais e sua pureza lhes conferem uma superioridade moral capaz de beatificar os crimes mais atrozes.
Esse é o comportamento típico das esquerdas stalinistas: a crença inabalável na superioridade da sua missão justifica o atropelo dos direitos individuais. Nos regimes em que essa filosofia chegou ao paroxismo, pagou-se com milhões de vidas. Aqui, onde não se enraizou por completo, se perdeu apenas o Parlamento (ainda que o flerte com o cerceamento de outras liberdades, como a de imprensa, tenha ficado claro na proposta de criação dos vários "conselhos").
A crise terá sido proveitosa se não apenas nem principalmente tirarmos dos cargos fulano ou beltrano, mas sim se a sociedade brasileira finalmente perceber e rejeitar o componente fundamentalmente autoritário dessas propostas dos monopolistas da ética, detentores da verdade, agentes do progresso histórico. Se a sociedade entender que o roubo não é menos criminoso por privilegiar um partido em vez de irrigar uma conta suíça. Se compreender que, quando se começa a desrespeitar as instituições democráticas, por qualquer pretexto que seja, está aberta a porta para que não haja mais nem democracia, nem cidadania. Se deixar de glorificar a pobreza e a ignorância como símbolos de pureza e passar a vê-las como o que realmente são: chagas que oprimem o homem e rebaixam sua condição humana; que devem ser combatidas, não objeto de admiração ou benevolência. Que não há salvadores nem Messias: há processos, instituições, maiorias.
Isso significa que essa débâcle é a senha não só para a revisão dos votos mas de todo um aparato social -uma superestrutura, como diriam os marxistas- que conduz os eleitores a votar do jeito que votam. Isso implica rever profundamente o currículo escolar e a formação dos professores, que, hoje, escondem sua descomunal incompetência (testes educacionais não param de nos colocar nas últimas posições no mundo) sob o manto de um discurso panfletário e marxista-de-ouvir-falar, de que o importante é construir a cidadania crítica, mudar o mundo etc. Que se dane o fato, apontado novamente por pesquisas do Instituto Paulo Montenegro, que apenas um quarto (!) dos brasileiros consegue ler e entender um texto. Para que precisariam nossas crianças ler, se estão aí os brilhantes mestres que as conduzirão no caminho da verdade suprema, não é mesmo?
Precisa colher também toda essa intelectualidade supostamente progressista, que continua falando de socialismo real versus teórico e que reproduz em seu pensamento o mesmo cacoete ditatorial dos políticos que apóia: distorce argumentos para que se enquadrem na verdade propugnada por sua militância, agridem e cerceiam a liberdade dos que pensam diferente.Essa elite intelectual passaria a vida aproveitando a docilidade do denuncismo inconseqüente de oposição não fosse a vitória nas eleições passadas. Felizmente, a chegada e o posterior desmoronamento de seu projeto político permitiu que se vislumbre sua farsa. Hoje, quando o circo pega fogo, os falastrões de outrora se calam. Quando abrem a boca, é para dizer que ainda não chegaram a conclusões (quantos extratos bancários serão necessários para articularem um mísero pronunciamento?) ou para desculpar os incendiários, culpando a malícia dos opositores. A falência de Marilena Chaui não é menor que a do presidente que ajudou a eleger.
O desaparecimento desse grupo não deve ser o desaparecimento da esquerda brasileira. Pelo contrário, deve ser o parteiro do nascimento de uma nova esquerda democrática, sem rancores nem revanchismos, sabendo-se humana e, portanto, falível. Que não queira acabar com a desigualdade empobrecendo os ricos, mas enriquecendo os pobres. Que entenda que não precisa estatizar a sociedade, mas sim socializar o Estado. Que desconfie das revoluções e invista na evolução. Que entenda que não há liberdade na pobreza, mesmo que coletiva, nem inteligência no analfabetismo, mesmo que ele proclame o mais poético dos ideais.
Gustavo Ioschpe, 28, mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade de Yale (EUA), é autor de "A Ignorância Custa um Mundo - o Valor da Educação no Desenvolvimento do Brasil" (ganhador do prêmio Jabuti 2005 em sua categoria). Foi colaborador da Folha."
Gustavo Ioschpe, 28, mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade de Yale (EUA), é autor de "A Ignorância Custa um Mundo - o Valor da Educação no Desenvolvimento do Brasil" (ganhador do prêmio Jabuti 2005 em sua categoria). Foi colaborador da Folha."
O Texto do Gustavo Ioschpe é irretocavel, com exceção do ultimo paragrafo que, embora correto na essência, contém simplificaçoes que dão margem a interpretaçoes totalmente equivocadas: "Que não queira acabar com a desigualdade empobrecendo os ricos, mas enriquecendo os pobres"... boa parte da riqueza dos ricos é oriunda da pobreza dos pobres no Brasil (como? corrupçao, sonegaçao de impostos...), e isso precisa ser atacado; quando ele diz que "nao ha inteligência no analfabetismo", entendo que se refira à equivocada ode petista e Lullista que vemos todos os dias nos pronunciamentos do presidente, mas por outro lado, inteligencia nao é sinonimo de educaçao ou instuçao, como também vemos exemplos todos os dias.
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