Ele descreve (corretamente) a historia do que chama de 'esquerda brasileira' até os dias atuais e deseja que, agora, 'caia nosso muro de Berlim'. Essa transiçao desejada, para uma nova esquerda que seja coerente, racional, honesta, democratica e atual, é extremamente desejavel, embora, a meu ver, seja improvavel.
Essa 'queda do nosso muro' vai se dar para uma parte dos brasileiros pensantes que compartilham desses valores, mas isso nao se aplica para a maioria dos brasileiros. Acredito que havera uma mudança do eleitorado de 2002 para 2006, mas esperar essa transformaçao de sonhadores irracionais de 2002 para coerentes e consequentes em 2006... precisa também sonhar!
Talvez nao seja muito agradavel para os meus amigos que sao petistas ouvirem isso, mas ainda assim tenho que dizer: Gostaria que voces lessem este artigo!!
Será que agora cai o muro de Berlim?
GUSTAVO IOSCHPE
"A maioria da esquerda brasileira é tão ou mais atrasada que o atraso que supostamente visa combater. Entrou para a guerrilha quando Che estava morto, criou uma Constituição desastrosamente estatista quando Gorbachev já havia entrado na perestroika e quase elege um operário defensor de um marxismo de folhetim no ano em que caía o muro de Berlim. Quando finalmente chegou ao poder, abandonou os princípios da esquerda e começou a montar um aparato para o seqüestro do Estado e sua entronização no poder que fariam inveja ao PRI mexicano dos áureos tempos (desnecessário apontar que a ascensão do PT no Brasil coincidiu com o ocaso dos congêneres mexicanos).
Por isso, essa crise política pode ser um presente para a democracia brasileira: dá a chance de levar de rodo todo um núcleo antidemocrático que danificava o país na oposição e o faz de forma exponencialmente mais grave no poder.Pois o projeto petista não era, como temiam alguns, tomar o Estado pela via eleitoral para então revolucioná-lo, criando um regime comunista. Era pior, por mais sub-reptício. Tratava-se de aparelhar o Estado, extorquir empresários, sugar recursos de estatais, cooptar e comprar deputados e, assim, mantendo as aparências do respeito às instituições, ir desidratando o país da pouca fibra democrática que conseguimos tecer nas últimas décadas.
E o fariam, ao que tudo indica, não para colocar em prática um projeto de país -quase tudo que está sendo feito aí é apenas uma versão piorada do que já se fazia antes-, mas simplesmente pelo exercício do poder. São pessoas que nutrem o mais profundo desprezo pelo jogo democrático: sentem que a correção de seus ideais e sua pureza lhes conferem uma superioridade moral capaz de beatificar os crimes mais atrozes.
Esse é o comportamento típico das esquerdas stalinistas: a crença inabalável na superioridade da sua missão justifica o atropelo dos direitos individuais. Nos regimes em que essa filosofia chegou ao paroxismo, pagou-se com milhões de vidas. Aqui, onde não se enraizou por completo, se perdeu apenas o Parlamento (ainda que o flerte com o cerceamento de outras liberdades, como a de imprensa, tenha ficado claro na proposta de criação dos vários "conselhos").
A crise terá sido proveitosa se não apenas nem principalmente tirarmos dos cargos fulano ou beltrano, mas sim se a sociedade brasileira finalmente perceber e rejeitar o componente fundamentalmente autoritário dessas propostas dos monopolistas da ética, detentores da verdade, agentes do progresso histórico. Se a sociedade entender que o roubo não é menos criminoso por privilegiar um partido em vez de irrigar uma conta suíça. Se compreender que, quando se começa a desrespeitar as instituições democráticas, por qualquer pretexto que seja, está aberta a porta para que não haja mais nem democracia, nem cidadania. Se deixar de glorificar a pobreza e a ignorância como símbolos de pureza e passar a vê-las como o que realmente são: chagas que oprimem o homem e rebaixam sua condição humana; que devem ser combatidas, não objeto de admiração ou benevolência. Que não há salvadores nem Messias: há processos, instituições, maiorias.
Isso significa que essa débâcle é a senha não só para a revisão dos votos mas de todo um aparato social -uma superestrutura, como diriam os marxistas- que conduz os eleitores a votar do jeito que votam. Isso implica rever profundamente o currículo escolar e a formação dos professores, que, hoje, escondem sua descomunal incompetência (testes educacionais não param de nos colocar nas últimas posições no mundo) sob o manto de um discurso panfletário e marxista-de-ouvir-falar, de que o importante é construir a cidadania crítica, mudar o mundo etc. Que se dane o fato, apontado novamente por pesquisas do Instituto Paulo Montenegro, que apenas um quarto (!) dos brasileiros consegue ler e entender um texto. Para que precisariam nossas crianças ler, se estão aí os brilhantes mestres que as conduzirão no caminho da verdade suprema, não é mesmo?
Precisa colher também toda essa intelectualidade supostamente progressista, que continua falando de socialismo real versus teórico e que reproduz em seu pensamento o mesmo cacoete ditatorial dos políticos que apóia: distorce argumentos para que se enquadrem na verdade propugnada por sua militância, agridem e cerceiam a liberdade dos que pensam diferente.Essa elite intelectual passaria a vida aproveitando a docilidade do denuncismo inconseqüente de oposição não fosse a vitória nas eleições passadas. Felizmente, a chegada e o posterior desmoronamento de seu projeto político permitiu que se vislumbre sua farsa. Hoje, quando o circo pega fogo, os falastrões de outrora se calam. Quando abrem a boca, é para dizer que ainda não chegaram a conclusões (quantos extratos bancários serão necessários para articularem um mísero pronunciamento?) ou para desculpar os incendiários, culpando a malícia dos opositores. A falência de Marilena Chaui não é menor que a do presidente que ajudou a eleger.
O desaparecimento desse grupo não deve ser o desaparecimento da esquerda brasileira. Pelo contrário, deve ser o parteiro do nascimento de uma nova esquerda democrática, sem rancores nem revanchismos, sabendo-se humana e, portanto, falível. Que não queira acabar com a desigualdade empobrecendo os ricos, mas enriquecendo os pobres. Que entenda que não precisa estatizar a sociedade, mas sim socializar o Estado. Que desconfie das revoluções e invista na evolução. Que entenda que não há liberdade na pobreza, mesmo que coletiva, nem inteligência no analfabetismo, mesmo que ele proclame o mais poético dos ideais.
Gustavo Ioschpe, 28, mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade de Yale (EUA), é autor de "A Ignorância Custa um Mundo - o Valor da Educação no Desenvolvimento do Brasil" (ganhador do prêmio Jabuti 2005 em sua categoria). Foi colaborador da Folha."
O Texto do Gustavo Ioschpe é irretocavel, com exceção do ultimo paragrafo que, embora correto na essência, contém simplificaçoes que dão margem a interpretaçoes totalmente equivocadas: "Que não queira acabar com a desigualdade empobrecendo os ricos, mas enriquecendo os pobres"... boa parte da riqueza dos ricos é oriunda da pobreza dos pobres no Brasil (como? corrupçao, sonegaçao de impostos...), e isso precisa ser atacado; quando ele diz que "nao ha inteligência no analfabetismo", entendo que se refira à equivocada ode petista e Lullista que vemos todos os dias nos pronunciamentos do presidente, mas por outro lado, inteligencia nao é sinonimo de educaçao ou instuçao, como também vemos exemplos todos os dias.